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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Transexual estrela peça de Shakespeare comemorando 30 anos de Companhia Teatral em Curitiba

Comemorando 30 anos de existência, o grupo Rainha de 2 Cabeças de Cesar Almeida apresenta sua nova releitura para o clássico mais encenado em todo mundo: Hamlet, de William Shakespeare

Nessa nova versão, Almeida resolve ressaltar a guerra ao ego, já que Hamlet é a peça da vingança. O autor entende que a contemporaneidade vive um momento doentio pois a espetacularização de nossas vidas íntimas, ressaltou o nosso ego transferindo nossa intimidade para a vida pública no mais alto grau já visto na história da humanidade. Estamos todos na vitrine viva de nosso web-divã. Fazemos de nossas individualidades verdadeiros shows de mediocridade para deleite de todos os que quiserem acessar nossa vida privada. Hamlet é uma exigência do seu ego, ele tem que honrar sua querida Dinamarca e livrá-la para sempre dos vilões que o cercam. Ele tem que demonstrar seu heroísmo a todo custo. É um herói de capa e espada. Nada mais digno e exemplar para uma sociedade imersa em seu utópico sonho de justiça.
Hamlet foi escrito há cerca de 400 anos mas é sempre atual. Fala da utópica necessidade de justiça inerente ao homem civilizado e ao mesmo tempo desnuda seu sentido atávico de vingança. Ele quer vingança a qualquer preço. É o que todos queremos de maneiras diferenciadas, mas é sempre assim. Vingança é um prato que se come frio, portanto Hamlet tem esse sabor de vitória requentada, de vitória estéril, de ilusão.
Com uma estética que incorpora elementos de performance e teatro pós dramático o autor desconstrói a célebre obra de Shakespeare e nos traz um espetáculo diferente daquele apresentado há 16 anos quando foi extremamente bem recebido tendo até mesmo estudo publicado na Universidade de Delaware(Foreign Accents- Brazilian Readings of Shakespeare), por Anna Camatti, estudiosa de Shakespeare.
Dessa vez o espetáculo é embalado por dois DJs que narram a estória tão trágica e tão patética ao mesmo tempo, pois não há mais espaço para a tragicidade na representação teatral de hoje. O pós dramático tomou conta da vida e da cena teatral, apenas confrontamos a tragédia cotidiana, não podemos mais representá-la stanislaviskianamente, pois seria uma heresia aos novos tempos. Anestesiado pelo bombardeio de informação em tempo real, a tragédia de hoje limita-se ao âmbito da individualidade. É importante esvaziar o conteúdo trágico quando o teatro já não é mais representação da realidade. O espectador busca a diversão para a apatia do cotidiano.
A Rainha de 2 Cabeças é um grupo formado por Cesar Almeida há 30 anos quando ainda cursava o extinto CPT- Curso permanente de teatro do Teatro Guaira. Desde então já encenou dezenas de peças em nossa capital, sempre buscando uma linguagem que dialogue com a contemporaneidade criando simulacros de identificação com o espectador. É necessário que não se perca o elo com a realidade na qual a obra de arte está inserida. Portanto um teatro curitibano e brasileiro precisa ser pensado e realizado.
No elenco o autor e diretor Cesar Almeida e Maite Schneider dividem a cena, brincando com a tragédia clássica. Maite Schneider executa os personagens de Ofélia (apaixonada de Hamlet) e de Gertrudes (a mãe de Hamlet) em cenas que brincam com interpretações clássicas e criticas a elas. “É a primeira vez que faço um texto de Shakespeare e é ótimo poder revisitá-lo de maneira contemporânea e reflexiva. Um presente dado por este importante diretor que tenho a honra de trabalhar mais uma vez e ainda dividir a cena.” – afirma Maite.

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