Ontem abri a janela do meu quarto por volta da meia-noite. Um brisa quente empurrou a veneziana de encontro à parede. A lua estava lá, completamente descortinada nessa terra nevolenta.O quarto escuro fazia toda luminosidade penetrar na casa...Senti uma energia diferente naquele minuto, uma sensação que já conhecia, uma certa conectividade com a natureza, com o universo, aquela paz na terra dos homens bem aventurados. Lembrei-me, imediatamente, da primeira vez que vivi essa "energia sensorial". Estávamos em grupo a percorrer o trajeto de quase quatro horas de trem entre Cuzco e Machu Picchu no Peru. Depois de caminhar em silêncio pelas ruínas da cidade sagrada a quase 2.500m de altitude, uma chuva devastadora nos acometeu de repente. Logo veio a notícia de que a ferrovia estava interrompida e uma corrida às pousadas do lugarejo se sucedeu. Ficamos no pé do serro, em águas calientes, num hotel pequeno. Ao fundo, havia um buraco no jardim que chamavam de piscina caliente. À noite, ilhados todos, resolvemos entrar no buraco. Fazia um pouco de frio. O céu completamente estrelado. Imersa na água quente, isolada na parte andina da floresta amazônica, senti pela primeira vez essa "deliciosa conexão sensorial". Note-se que, tudo aquilo que pudesse estimular minha sensibilidade, felizmente, larguei no curso dos anos que se passaram. Jamais vou esquecer aquele momento. Melhor ainda, às vezes, inadvertidamente, abre-se o sinal e a linha se estabelece, divinamente.
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