Corria a década de 70, eu menina, vivia sob a expectativa dos natais na casa de meus avós, Josefina e Edgard de Albuquerque Maranhão. Aquele ano foi diferente, lembro-me de um 24 de dezembro inusitado, todos de casacos e uma garoa fina, lá fora. O casarão no cruzamento da Desembargador Mota e Avenida Batel iluminado, desde o portão, os jardins bens cuidados para noite especial. Havia um janelão para a rua por onde víamos o movimento e abria-se a sala de jantar, ali acontecia a ceia de natal. Já passava da meia noite, as crianças meio cançadas, os adultos todos à mesa. Repentinamente, fomos todos surpreendidos pela imagem de uma casa modesta, feita toda em madeira, logo à frente, ardendo em chamas. A labareda parecia ter uns 30 metros de altura, uma enorme fogueira que veio esquentar aquela noite fria de Curitiba. De pronto, meu avô, diante daquela tragédia, ante a corrida dos moradores que, a nossas vistas perdiam tudo, lutando para salvar alguns pertences, ordenou que as cortinas da casa fossem todas fechadas, as luzes dos jardins e dos cômodos não utilizados todas apagadas. Além disso, convocou todos os homens ali presentes à acompanhar-lhe ao incêndio e prestar ajuda aos desafortunados. Soube que, mais tarde, procurou o proprietário, interessado no destino dos moradores. Quando li a notícia da suspensão do Rally Náutico promovido pelo Iate Clube de Caiobá, essa historia transitou recorrente na minha lembrança... Parabéns Comodoro Ciro Camargo, parabéns pela dignidade de sua atitute. Como é possível promover tamanho campeonato esportivo, grande congraçamento, enorme disputa das camisetas para festa em comemoração ao maior evento náutico da América Latina, enquanto ao lado, nas sombras da mesma mata, banhados pela mesma água do litoral do Paraná, famílias amarguram o desespero por terem perdido tudo, absolutamente tudo, até a esperança de chegarem dias melhores. Não é possível ceiar diante das chamas. Parabéns, parabéns, parabéns....
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