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sexta-feira, 25 de maio de 2012

A música além do Vitral


Indioney Rodrigues e Ricardo Janotto apresentam espetáculo experimental de música popular no Teatro Paiol
A música que será apresentada no Vitral, projeto independente e incomum dos músicos Indioney Rodrigues e Ricardo Janotto, pode ser considerada um presente para os apreciadores da música popular. Trata-se de uma experiência diferente de ouvir música, que pode ser muito bem aproveitada por aqueles que sentem prazer em fugir do óbvio e que buscam novas referências para criar, recriar e ousar.
O show que será apresentado nos dias 26 de maio e 28 de junho no Paiol é imerso em uma carga cultural característica do século XX, no qual os artistas procuraram criar uma nova noção de espaço/tempo. Depois de quatro anos estudando em Londres, Indioney volta para Curitiba com uma visão mais amadurecida sobre a música. A experiência europeia serviu para que ele pudesse ter um contato maior com duas grandes referências artísticas que, hoje aparecem na sua expressão musical e especificamente nesta primeira mostra do trabalho.
Uma das referências é Oliver Messiaen, compositor francês que teve o seu trabalho marcado por procedimentos sinestésicos intelectuais entre som e cor. "Ele lidava com os sons, como quem pintava um quadro; eu fiquei encantado com a idéia de audição-colorida e o modo como ele trabalhava com texturas sonoras", afirma. Messiaen acreditava que o arco-íris era o símbolo da paz, da sabedoria e de toda a vibração luminosa e sonora; utilizava a metáfora da ordem dos sons e das cores como uma via de acesso à ideia de unidade artística, assumindo nesse papel uma dimensão do sagrado, do transcendental.
A outra referência artística que está presente no conceito do Vitral é a obra de Karlheinz Stockhausen, um compositor alemão de música contemporânea que experimentou as potencialidades dos sons eletrônicos para criar novos timbres, sem o auxílio de instrumentos. “Lincht” (luz em alemão) é a sua mais ambiciosa criação, que lhe custou mais de vinte anos de trabalho. Ele criou um ciclo de sete meta-óperas, cada uma tendo por título um dia da semana, no qual tentou unificar a história do Universo e a história do Homem. Após o término desta composição, Stockhausen iniciou "Klang" (vocábulo que significa som, ligado a um timbre); um "Livro de Horas" inscrito de sensações acústicas que tem 24 partes, correspondendo a 24 horas do dia.
Vitral é resultado de uma vivência pessoal do contemporâneo Indioney Rodrigues ao assistir uma peça de Stockhausen, na qual havia uma espacialização de speakers, fazendo o som viajar pelo espaço do teatro: uma sensação auditiva única para o público. No Teatro Paiol, ele e o percussionista Ricardo Janotto, vão tentar criar uma "bolha sonora", aproveitando o formato de arena para os experimentos eletroacústicos.
A distribuição sonora circular no Teatro precisava seguir um padrão, combinado com o roteiro do show. Indioney e Ricardo decidiram então trabalhar com a idéia relógio e da passagem do tempo linear e não-linear. Serão espalhados pelo teatro oito speakers, proporcionando uma experiência incomum para ouvir a música. O show tem a duração de exatos 60 minutos - marcados no relógio – mas, ao longo do espetáculo provocarão no público a sensação de um tempo não linear, que às vezes passa depressa e às vezes demora a passar. “Às vezes nós temos a sensação de passagem rápida do tempo quando estamos no mundo imaginário; na ida ao cinema, por exemplo, duas horas do filme podem passar voando”, argumenta.
Com um repertório de canções inéditas e algumas releituras já apresentadas nos shows “Cantos Outros” e no disco “Barroca”, Vitral marca o retorno do já consagrado compositor Indioney Rodrigues que, ao lado de Ricardo Janotto proporcionam um projeto raro do qual o público curitibano deve se surpreender.

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