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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O Rio dos Curitibanos - Casa de Arte e Cultura Julieta de Serpa, praia do Flamengo,340‏

O palacete, onde hoje está instalada a Casa de Arte e Cultura Julieta de Serpa, foi construído em 1920 e é fruto de uma história de amor. Apaixonado pela mulher, Demócrito Lartigau Seabra, filho de importante família de comerciantes da época, quis dar de presente à sua esposa, Maria José, a mais bela casa do Rio de Janeiro. Contratou, para desenvolver o projeto, um arquiteto francês e, da mesma forma, mandou vir da Europa todas as peças de acabamento, como “parquets”, vitrôs, portais etc. e as de decoração, como tapetes, quadros, prataria etc. Depois da morte de Maria José, em 1989, com 95 anos – o marido já havia morrido em 1932 – só o filho mais velho, Carlos Alberto, ficou morando no palacete. Com a sua morte, em 2001, o palacete foi vendido para uma firma que queria demoli-lo para construir no local um prédio. Não conseguiu, no entanto, realizar seu intento, porque a casa havia sido tombada, em 1997, pelo Departamento Geral do Patrimônio Cultural da Secretaria Municipal de Cultura. O educador e antiquário Carlos Alberto Serpa de Oliveira se interessou pelo palacete, comprando-o, em 2002, para nele instalar uma casa de cultura, dando-lhe o nome de sua mãe, Julieta de Serpa.

O Palacete da Praia do Flamengo 340 é, nitidamente, um neoclássico francês, tipologia comum na segunda metade do século XVIII, em que predomina o estilo Luiz XVI, com algumas peças decoradas no estilo Império e uma sala no puro estilo Adam.
O projeto, que deve ter incluído, pelas plantas que ainda existem, estudos do arquiteto Luís de Moraes Jr. – famoso no Rio de Janeiro, na época em que o palacete foi construído – é de autoria de um arquiteto francês, cujo nome lamentavelmente não foi possível levantar. Ao que parece, o palacete era planejado em Paris e referendado no Brasil pelo mesmo Luís de Moraes Jr.
A fachada principal é marcada, no seu eixo de simetria, por um corpo semicircular, coroado por uma cúpula iluminada por clarabóia em vitral e ventilada por janelas circulares. A cúpula é toda revestida de telhas de ardósia e arrematada por rica moldura feita em bronze, articulada também simetricamente com o corpo prismático do prédio.
Todos os elementos arquitetônicos da fachada ratificam o estilo Luiz XVI, com todo o sentido modular da trilogia clássica: embasamento, corpo em dois pavimentos e coroamento em magnífico entablamento. O embasamento, em cantaria de granito, suporta o corpo, este marcado por pilastras modularmente dispostas, com reflexos da ordem dórica, uma das cinco ordens da cartilha clássica.
A entrada do palacete foi deslocada, pelo arquiteto, para a parte lateral, em “porte cochère”, encimado por um jardim pergolado a céu aberto, mais tarde fechado, em forma de gazebo, para proteção contra o vento. Embora eclético, o gazebo guarda elementos do estilo neoclássico: a parte de baixo, ou seja, a entrada do “porte-cochère” se faz através de uma arcada guarnecida por cantaria de granito, com a aplicação de uma carranca na chave; e na de cima, um par de pilastras e de colunas jônicas apóiam-se sobre pedestais ligados por balaustrada.
O gradil em forma de varanda, que contorna toda a fachada, também é do estilo neoclássico Luiz XVI. Colocado posteriormente ao projeto inicial, mas ainda antes de concluída a construção, e decorado com folhas de acanto, ele deu uma graça ainda maior ao palacete e uma aparência domiciliar parisiense. A varanda apóia-se em vigorosos consolos canelados adoçados por caneluras terminadas em frisos com gotas. Da mesma forma, o gradil do muro da frente da rua, igual ao da varanda, confere unidade ao conjunto, unidade de composição esta fundamental no conceito clássico de arquitetura.
O acesso à residência se dá através de uma portada, de altura do pé direito do primeiro andar, em estilo Luiz XVI, forjada em ferro, com partes decorativas em bronze cinzelado, importada de Paris pela Companhia Bettenfeld, na época, importante firma francesa de decoração com filial no Brasil. A portada é aplicada em fundo de nicho e ladeada por duas janelas em arcada também guarnecida por grades de bronze.
A moldura que circula a porta é simples, sem a chave que guarnece as janelas, o que denota certo ecletismo do arquiteto, que deveria colocar também uma chave, talvez mais forte e mais larga sobre a porta.

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