O golfe brasileiro perdeu esta semana um esportista notável, com a morte de Yoshito Nomura em São Paulo, dia 28 de março de 2011, aos 85 anos. Nascido em Registro, SP, no dia 24 de abril de 1925, Nomura-Sam, como ficou conhecido, dedicou mais da metade de sua vida ao esporte.
Foi presidente por duas vezes da Federação Paulista de Golfe (88/90 e 93/94), diretor Financeiro (91/93), diretor Técnico por mais de 35 anos, e chefiou inúmeras delegações da entidade em torneios. Apesar de ter parado de jogar por um problema na coluna, Nomura nunca deixou o golfe. Morreu um dia antes do início da Taça Escudo, onde trabalharia como presidente da Comissão Técnica, como havia feito 15 dias antes no Campeonato Bandeirantes.
Antes de se dedicar ao golfe e ao seu crescimento dentro da comunidade japonesa, Yoshito Nomura praticou outros esportes. “Saí de Registro com quatro anos. Meu pai cuidava de uma fazenda de café. Depois fomos para Avanhandava e Lins, onde comecei com o tênis e basquete (ficou em terceiro lugar nos Jogos Abertos do Interior) e Apucarana (PR). Cheguei a jogar beisebol. Por volta de 1965 vim para São Paulo trabalhar na Mitsui e lá quase todos jogavam golfe. Então, para conseguir mais entrosamento com a comunidade japonesa eu resolvi jogar também, no São Francisco Golf Club", contou Nomura à revista Golfexpress, em 2005.
Um dos fundadores da Associação Nikkey do Brasil, foi dirigente do Campeonato Nikkey de Golfe, em Arujá (SP), em todos os torneios desde o primeiro em 1969 até 2010. "No início era só o pessoal de São Paulo. Depois começou a vir gente do Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Amazonas. Como organizador participei de todos os torneios. Mas nunca joguei, pois quem está na organização não pode jogar. Imagina se acontece algum problema. Quem vai resolver?".
Trocando os eles pelos erres, como bom japonês (uma característica que o tornou conhecido nos campos de golfe de todo o Brasil), Yoshito Nomura, em meio a centenas de troféus, fez de tudo no esporte: “Fui jogador, árbitro e dirigente. Meu melhor handicap foi 11. Quando pensei que ia crescer, entrei como diretor Técnico da Federação Paulista de Golfe. Depois aceitei ser árbitro, mas nunca gostei. Você está sujeito a arrumar inimigos”, dizia.
Com paciência oriental, Nomura comentava que a maioria dos jogadores desconhece as regras do golfe: “Muitos ouvem falar alguma coisa e pensam que aquilo é certo. Uma vez, um profissional brasileiro me aprontou uma. Ele bateu uma bola no meio do mato, que se perdeu. Esperou cinco minutos, dropou e bateu. Só me avisaram disso no final do jogo. Eu falei para ele: ‘está descrassificado’ (desclassificado). Ele, sem vergonha nenhuma, me perguntou: ‘não tem jeitinho brasileiro?’. Não dá para acreditar que me pediu isso”.
Mas apesar de todas as dificuldades, Yoshito Nomura afirmava que nunca passou por situação difícil: “Regra é regra. Está escrito. É só mostrar para o jogador. O árbitro tem sempre que andar com livro de regras nas mãos. Ele não deve dar uma decisão sem ter o livro com ele”.
Nomura torcia pelo crescimento do golfe: "O esporte está evoluindo, se não em número de jogadores, pelo menos em campos. Mas precisamos de um jogador de ponta para estimular o esporte. E isso só será possível se melhorarmos o nível dos professores. O professor não precisa ser, necessariamente, um grande jogador, mas ele precisa saber transmitir, de forma clara e objetiva, todas as técnicas do esporte".
Na parede da sala de sua casa, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, Yoshito Nomura mostrava com orgulho um quadro do amigo Manabu Mabe. "Ele foi um grande homem e um grande pintor. Fomos amigos desde a infância. Um sujeito fantástico. Eu o conheci em Lins, quanto a gente estava envolvido com o time de beisebol da cidade".
FAMÍLIA DE GOLFISTAS
O golfe é uma verdadeira paixão para a família Nomura. Além de Yoshito, sua mulher Emi e a filha Tiemi são golfistas: “Comecei acompanhando o Yoshito. Acabei gostando e comecei a jogar para fazer exercícios devido a um problema de saúde”, diz Emi.
E o que parecia ser apenas um lazer se transformou em algo mais sério. Emi representou o Brasil no Mundial da Argentina e jogou dez vezes o Sul-Americano, conquistando dois títulos (Paraguai e Peru): “Infelizmente não consegui vencer jogando dentro do Brasil”.
Emi também foi capitã da equipe brasileira campeã juvenil no Chile. Sua filha Tiemi (que há 25 anos mora nos EUA) era jogadora do time: “Foi emocionante ganhar esse título. Hoje a Tiemi dá aulas de inglês na América. Ela tem filhos gêmeos (Michael e Jay). O Jay parece que vai continuar a paixão da família pelo golfe”, afirma.
Yoshito Nomura não tinha problema em falar que nunca conseguiu um hole in one em sua carreira, mas lembrava que Emi marcou seis: “Minha filha também fez uns três. É um momento mágico, mas sem segredo. Basta medir a força e contar com a sorte”, explicava professoral.
Nomura tinha um espírito jovial e um bom humor contagiante. É quase certeza que nunca teve inimigos. Em entrevista aos jornalistas Ivo Simon e Vicente de Aquino, em 2005, ele chegou a comentar, modestamente: “Acho que fiz alguma coisa em prol desse esporte. E ajudei a difundir o golfe dentro da colônia japonesa”.
No cemitério do Araçá uma multidão de amigos do golfe foi dizer adeus a Nomura. Clubes e entidades do golfe enviaram inúmeras coroas. Sua imagem certamente jamais será esquecida nos campos de golfe.
Ele deixa a esposa Emi, a filha Tiemi e os dois netos.
Junto com sua notável história, Nomura-Sam levou no caixão um taco de golfe.
MISSA DE 7º DIA
A missa de 7º dia de Yoshito Nomura foi dia 03 de abril (domingo), às 19h00, na Paróquia Nossa Senhora Mãe do Salvador, conhecida como Igreja da Cruz Torta (Av. Prof. Frederico Herman Jr., 105, Alto de Pinheiros, tels. 11-3031-8554/3032-2336).
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