Passei a última semana em Paris, onde fui avaliar um automóvel (não, não era nenhum evento para grupo de jornalistas; Interpress Motor foi por conta própria)
Sem o mínimo receio de parecer deslumbrado, gostaria de comentar alguns pontos que ficam martelando toda vez que volto de lá. Não, Paris pode parecer, mas não é um paraíso. É uma cidade linda, mas tem trânsito caótico, problemas graves de estacionamento, sujeira nas ruas, moradores de rua, pedintes e criminalidade como em toda grande cidade (talvez não em proporções endêmicas como aqui).
Mas a base de tudo – falo de educação e cultura –, no entanto, é bem diferente. Gritante, eu diria. Não vivemos na neura de ter nossos direitos individuais à vida e à propriedade permanentemente alijados. O carro que avaliei pernoitou na rua, a poucos metros da portaria do hotel em que me hospedei, no sexto distrito (o mais notívago, intelectual e, na minha opinião, charmoso da cidade).
Detalhe: não tinha película escurecida e um aparelho de GPS portátil estava colado do lado interno do para-brisa. Pergunte se me preocupei em tirar. Nada. No dia seguinte lá estava ele, intacto. Se eu faria o mesmo aqui? Jamais!
Vemos por lá os mais diferentes veículos com objetos do lado de dentro. No Brasil muitas vezes nem o pneu é poupado. Saí algumas vezes, estacionei em lugares difíceis de encontrar vaga e nem assim fui abordado por um único flanelinha.
Uma amiga brasileira se casou com um francês, para quem soa absurdo os prédios no Brasil terem porteiros 24 horas – em Paris um luxo para pouquíssimos imóveis, em geral de pessoas muito abastadas. Os prédios são acessados com chaves ou códigos alfanuméricos teclados em um a parelho na portaria. Aqui eles cairiam rapidamente na mão de criminosos dispostos a fazer arrastões.
GPS portátil ficou dentro do carro que pernoitou na rua |
Lá as bikes podem quase tudo. É comum ver placas de contramão “salvo para bicicletas”. Elas trafegam nas faixas exclusivas de ônibus e táxis. Já me perguntaram se não tenho medo de andar de bicicleta em Paris. A resposta é não. É Paris, não Porto Alegre.
Em frente a escola infantil, patinetes e carrinhos aguardam seus donos |
Quem conhece minha paixão pela cidade e descobre que estou lá costuma comentar: “Em Paris de novo? Chique, não?”. Discordo. Chiques somos nós, que pagamos uma das cargas tributárias mais altas do mundo e não recebemos nem de longe o correspondente em educação, saúde, transporte, segurança e opções públicas decentes de lazer.
Chique é andar só de carro, com vidro escuro e, de preferência, blindado. Jecas são os pais das crianças francesas, que “guardam” os carrinhos e patinetes dos filhos do lado de fora da escola, sem que ninguém precise vigiar (veja o flagrante que fiz acima, com a câmera do celular). Chique é minha filha, Júlia, de quase t rês anos, que terá de crescer “aprendendo” a se resguardar da infindável série de perigos que a cercam no Brasil.Odete Roitman estava certa.
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