Após os agradecimentos, Manoela convidou ao palco o curador do festival, Manuel da Costa Pinto, mediador da conversa com Peixoto, que percorreu a história de seus livros e emocionou Curitiba.
“Comecei a escrever sem consciência da linguagem”, afirmou Peixoto, cuja escrita começou durante a adolescência e depois evoluiu para romances, para surpresa do próprio autor. Seu primeiro livro, Nenhum Olhar, de 2001, foi uma edição própria de 500 exemplares vendidos a amigos, sem grande expectativa de público. “Mal conseguia que alguém próximo lesse o original”, confidenciou. A obra se tornou um de seus livros mais conhecidos, com tradução para mais de 20 países. “Se o livro está vivo há 15 anos é por força dos leitores”, disse.
José Luís Peixoto tem uma obra abrangente em gêneros e temas, descrita em suas palavras : “[tenho um] poema simples e uma prosa trabalhada [até] barroca nos livros antigos”. O autor recitou – sem ler – um de seus poemas durante o bate-papo, comentou do retorno literário ao Alentejo, no livro Nenhum Olhar; dos portugueses que foram para a França, em Livro; e também do seu diário de viagem Por Dentro do Segredo, relato de uma experiência na Coreia do Norte. Inclusive, Peixoto disse ser “marcado pelo que não viveu” devido ao período em que cresceu, pois, nascido em setembro de 1974, não viveu o período da ditadura de Salazar, influência na produção de autores nascidos antes.
O escritor português já conhecia o Brasil, e visitou, entre outras cidades, Cuiabá, Palmas, Belém do Pará e Porto Alegre. Foi sua primeira visita a Curitiba. A reputação de calado e até um pouco frio do curitibano não o incomodou - “isso não é negativo, depende com quem nos comparamos”, afirmou, tanto que atendeu calorosamente a cada um da extensa fila de autógrafos, que acabou cerca de duas horas após o bate-papo.
“A Literatura é acessível, todo mundo pode escrever” mencionando José Saramago, afirmou Julie Fank, da Escola de Escrita. Em parceria com o Litercultura, a instituição foi responsável pela vinda de José Luís Peixoto para Curitiba. “Podemos ampliar a leitura e ler de outra forma após ouvir o autor”, comentou, responsável pela Escola, com sede própria na capital paranaense, cujas atividades incluem oficinas em diversos gêneros textuais, com autores de âmbito nacional.
A primeira edição do Litercultura, em 2013, trouxe o prêmio nobel de literatura J.M. Coetzee para a pré-estreia e, mais tarde, em três dias realizou bate-papo com autores de literatura, poesia, jornalismo, oficinas e apresentações; na segunda, de 2014, o festival ganhou o formato atual, dividido em capítulos.
“Em geral, no Brasil você tem festas literárias em três dias ou você tem encontros mensais que se espalham ao longo do ano. O Litercultura é uma espécie de fusão desses dois formatos, e isso lhe dá singularidade, a ideia é explorar ao máximo essa estrutura bastante particular, imprimir sua marca na cidade” afirma Manuel da Costa Pinto, crítico literário e curador do festival, e mediador da conversa com José Luís Peixoto. Em sua história, constam as vindas de estudiosos internacionais, com Eric Nepomuceno e Alberto Manguel, autores considerados renovadores da prosa portuguesa contemporânea – Gonçalo Tavares e Valter Hugo Mae -, e autores nacionais do porte de Cristovão Tezza, Sergio Rodrigues e Ana Maria Machado. Com a abertura da edição de 2015, ocorrida em nove de maio, o Litercultura consolida-se no circuito cultural de Curitiba como um festival de grande porte com sua própria identidade.
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