Paul Krugman, vencedor do prêmio Nobel de Economia de 2008, esteve no Brasil esta semana para participar da HSM ExpoManagement. Autor de mais de 20 livros e professor da Princeton University, ele mostrou-se otimista com o Brasil, apesar de, segundo ele, "o país vir dando motivos para ser pessimista". Para o economista, a recessão instalada é reflexo da popularização do País com a "moda" implantada pelo termo BRICs, que agrupou países que não tinham nada em comum e fez com que muitos investimentos externos fossem direcionados aos chamados "países emergentes".
"Acontece que o Brasil nunca teve um crescimento de produtividade que justificasse um investimento externo grande", argumentou. E o pior: quando o Brasil ficou "popular", a dívida do governo cresceu. "Aprendemos que dívidas em moeda estrangeira deixam o país muito vulnerável", lembrou. Então, o Brasil sofreu um choque duplo: a diminuição do investimento estrangeiro e a queda no preço das commodities. "Para reforçar o problema, o País adotou uma política econômica perversa, aumentando as taxas de juros e fazendo cortes orçamentários emergenciais", disse.
O economista compara a crise brasileira com o atual momento do Canadá, que também sofreurecentemente a desvalorização da moeda e vive uma espécie de bolha imobiliária prestes a explodir. "O futuro deles também não é muito otimista", afirmou. "Mas, ao contrário do Brasil, o Canadá não tem histórico de inflação alta, não aumentou as taxas de juros e não diminuiu investimentos", ressaltou.
Para Krugman, a crise brasileira pode ser comparada à americana de 2008 mas, segundo ele, isso não é algo inédito no mercado brasileiro. "Um dos maiores problemas do Brasil é a falta de credibilidade. A história não está do lado de vocês. As vulnerabilidades tradicionalmente agregadas ao Brasil estão emergindo", disse. Para o economista, com os problemas específicos do governo brasileiro, como acusações de gastos descontrolados e corrupção, fica muito difícil escapar de uma recessão econômica. "Com a perda de confiança, as taxas de juros aumentaram e o Brasil caminha na mesma direção da Grécia", alertou.
A perda da credibilidade reforça o que Krugman apontou como uma "consequência ruim do romance": quando os gringos descobriram que o Brasil continuava a ser o mesmo País de antes, que não teve uma transformação como a Coreia do Sul, o Brasil começou a perder os investimentos e "deixou de estar na moda". Mas a principal consequência da falta de credibilidade do País, segundo Krugman, é a forma como a mídia mundial vem descrevendo o Brasil: "há um pânico e exagero geral da mídia que piora tudo. O Brasil está sendo retratado no mundo como caso de fracasso total", revelou. "Isso torna as coisas especialmente difíceis para o governo".
Mas o otimismo de Krugman prevê uma recuperação em médio prazo. "O declínio do Real vai ficar para trás, a inflação vai cair e a pressão das taxas de juros sobre a economia será aliviada. Já podemos vislumbrar um resultado melhor. Daqui a um ou dois anos, o Brasil vai começar a ver uma grande reviravolta. O declínio da moeda é transitório", assegurou.
Porém, o Nobel de Economia alertou para que o Brasil fique atento a dois fatores que podemprejudicar a economia do País: o primeiro deles é a política monetária dos Estados Unidos, com o aumento das taxas de juros, no próximo mês. Mas o fator mais importante, segundo Krugman, é que talvez estejamos enfrentando o início de uma nova crise global, que está emergindo na China. "E isso vai afetar muita gente, inclusive o Brasil", finalizou.
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