O escritor André Sant’Anna, autor entre outros de O paraíso é bem bacana e O Brasil é bom, leu 2,99 e assina o texto de apresentação. Confira:
“O Marcio Renato dos Santos é um escritor muito estranho. Na alma dele vivem seres/personagens muito estranhos: uns caras esquisitos, cujas mentes são povoadas de pesadelos que se transformam em sonhos e sonhos que se transformam em pesadelos. Mas essa esquisitice toda é tão sutil, parece tão cotidiana no universo de uma cidade provinciana e literária e poética, como Curitiba, que acontece sem que a gente quase não a perceba.
2,99 fala de uma vida barata, de rotinas imutáveis, de uns sujeitos que estão sempre andando pela cidade, indo a lugar nenhum, através de paisagens pueris, ruas absolutamente cotidianas, percursos que raramente fogem do de casa para o trabalho, do trabalho diretamente para casa, onde seres humanos baratos simplesmente tomam banho, comem alguma besteira e esperam o sono chegar diante de uma televisão cuja programação não tem importância alguma.
Em 2,99, há um cara que sua muito, que anda de casa até o trabalho, do trabalho até o restaurante na hora do almoço, do restaurante para o trabalho, do trabalho para casa. As axilas desse ser exalam um mau cheiro sentido apenas pelo próprio solitário. Há também uma família de comerciantes cujo negócio bem-sucedido se deve à condição de corno passada de pai para filho, de geração para geração. Os homens da família são traídos pelas mulheres que se entregavam a anões.
Mas o que o adultério da esposa com anões tem a ver com sucesso nos negócios? Não faço a menor ideia e esse maluco do Marcio Renato dos Santos também não vai explicar em 2,99. O Marcio Renato dos Santos não explica nada.
E o cara que tem um canário chamado Jimi Hendrix? Jimi Hendrix morreu, estou dizendo o final do conto, mas não tem problema, já que o importante nos contos de 2,99não está na solução de mistérios. Por que Jimi Hendrix morreu? Não sei, você não vai ficar sabendo, o Marcio Renato dos Santos, estranho, não vai contar, nem explicar nada. E, mesmo assim, a gente sente algo de muito diferente no peito, um aperto na garganta, uma solidão insustentável.
E sabe aqueles concursos de imitadores de Elvis Presley? Em 2,99 há um desses, só que, em vez de Elvis Presley, Leminski. E o melhor Leminski do concurso de Elvis Presley não é o Leminski.
Tudo muito estranho. Mas tão estranho que, se a gente não presta muita atenção, vai achar tudo normal. Meio que naturalmente estranho.”
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