Anos atrás, quando solicitei meu primeiro cartão, em pouco tempo me vi completamente endividada. Depois disso, nunca mais usei cartão de crédito. Só pago à vista, tudo in cash. Todavia, meu período de recuperação econômica serviu-me de valioso aprendizado. Simplesmente não ter dinheiro nos faz descobrir infinitas possibilidades todas regadas a surpresas e novos conhecimentos. Primeiro é bom por à prova todos os talentos que andavam adormecidos. Fazer presentes, consertar, arrumar, pesquisar, caminhar, descobrir uma nova programação cultural totalmente free, e por aí vai. Sustentabilidade, nessa fase, é condição de sobrevivência. Tudo é uma questão de ótica. A minha, nesse caso, foi otimista, de modo que o resultado, foi sim, muito proveitoso. Gasta-se demais, sem necessidade, sem a esperada valorização do nosso dinheiro. O que os olhos não vêem o coração também não sente. Engraçado mesmo é que, à cada dia que quitava uma dívida, lembrava da minha bisavó, Targina Bollmann Ritzmann, com quem tive o privilégio de conviver por muito tempo, até sua morte aos 104 anos.
Ela vivia numa casa sólida no pé do morro, junto a interminável escadaria que conduz os fiéis à catedral de São Bento do Sul. Aos domingos, eram de sua janela que vinham os acordes clássicos que estimulavam os fiéis à subir aquele morro até alcançarem a igreja. Levantava cedo. Pela manhã estava sempre ocupada com o jardim de flores, hortaliças e árvores frutíferas. À tarde, começavam a chegar as amigas em dia de lanche. Cada uma com um maço de flores coloridas do seu jardim. Um prato de doce ou salgado, além de trazerem nas mãos, um trabalho manual que entermediaria as conversas. Todas aquelas velhinhas conheceram as restrições das guerras e aprenderam a viver do jeito que nos ensinaram na Rio + 20. O fato é que o comércio, a sociedade de consumo, implementou a máxima: a comprar é solução pra tudo! Nos cegaram para distinguir a essência das coisas. O valor das coisas. Resta-nos sim, uma esperança, e ela chama-se emoção. Só mesmo a emoção, o sentimento verdadeiro e a necessidade, é que devem impulsionar o consumo.
Assim, fundada nesses valores, as conquintas se eternizarão, tal e qual no inesquecível Rick's bar de Casablanca, onde em um só estúdio e parcos recursos, muito talento e criatividade em plena atitude sustentável, descortinaram um clima inesquecível e eterno, como se a fuga por Casablanca ainda estivesse viva e o tempo não dissesse adeus.
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